terça-feira, 16 de dezembro de 2008

NA BEIRA DO MAR

Nas revistas, jornais, rádio e TV muito se comenta sobre os perigos da exposição à luz solar, principalmente entre 11 da manhã e 5 da tarde, se considerarmos o horário de verão. Protetores contra os raios UV-A e UV-B existem a escolher nas farmácias, nos supermercados e em lojas especializadas. Pouco se ouve falar, todavia, nos perigos do mar, os quais somente são ressaltados quando uma ocorrência mais grave reacende um sinal de alerta que deveria estar permanentemente conectado aos sentidos de todos os banhistas.

Tomar banho somente nos locais cobertos por salva-vidas e respeitar as bandeiras de advertência [verde, amarela ou vermelha] é a regra nº 1. A regra nº 2 é obedecer a regra nº 1. O descuido, a negligência ou os caprichos do mar, todavia, podem fazer com que alguém venha a passar por grandes apuros. Quanto à expressão "caprichos do mar" quero dizer que o mar, regulado pelo vento, pela atividade vulcânica submarina, pelo movimento da crosta terrestre e pela ação gravitacional da Lua, é imprevisível. Na beira do mar esta característica pode ser observada pela constante alteração dos locais dos bancos de areia e buracos em dias de vento mais forte ou em uma certa manhã posterior a uma noite de mar agitado.







Nos verões do Cassino, que é a praia mais próxima de onde eu me encontro, uma série de ondulações (bancos e cavas) sucessivas se prolongam paralelamente à praia, alternando zonas mais profundas com zonas mais rasas à medida que se anda mar adentro. O Laboratório de Oceanografia Geológica da FURG, em levantamentos realizados em diversos verões, constatou que, em geral, existem dois bancos e duas cavas situados até uma distância de 120 metros da linha d'água. Na primeira cava as profundidades são menores e para quem não é bom nadador é bom parar por aí ou no próximo banco de areia. A segunda cava é mais profunda, o que para uma pessoa de estatura média (em torno de 1,70 m), pode significar água na altura do peito sem considerar a incidência e a força das ondas, causadoras de desequilíbrios indesejados. Em dias de vento Nordeste intenso a areia se move paralelamente à praia, e é aí que mora o perigo, porque as diferenças entre as cristas e as depressões aumentam, e se formam buracos de localizações muito variáveis. Então é hora de enquadrarmos a regra nº 3: Não ultrapasse a altura da sua cintura.

Mas ainda não terminou. Os espaços existentes entre dois bancos de areia enfileirados longitudinalmente, ou seja, ao longo da praia, permitem que entre eles fluam correntes perpendiculares que saem da praia em direção ao mar. São as chamadas "correntes de retorno". Quando as ondas quebram (arrebentação), formando aquela espuma bem visível, elas estão se chocando contra bancos de areia ou locais onde a profundidade do mar é muito menor em relação àquela em que as ondas vinham se desenvolvendo. Nos locais onde não há essa diferença de profundidade, as ondas não quebram e, consequentemente, não produzem a espuma. Elas simplesmente invadem a praia com força e retornam com a mesma força, arrastando o houver pela frente, formando um perigoso corredor de água mais turva. A regra nº 4 pode se enquadrar aqui: Não entre na água em locais onde o nível da areia da praia tiver uma inclinação bem mais acentuada em relação ao restante da orla. Ali, certamente, tem um enorme buraco, e com uma perigosa corrente de retorno.












Para identificar uma corrente de retorno devemos observar se:
- uma porção de água turva está passando entre uma zona de arrebentação;
- existe uma diferença na coloração da água (marrom, porque as correntes suspendem areia do fundo; azul mais escuro, devido a canais mais profundos);
- o local apresenta um formato de cogumelo quando visto de um lugar mais alto;
- as ondas não quebram ali, caracterizando um corredor por onde flui a corrente;
- a superfície do mar parece mais "crespa" no local da suposta corrente;
- existe espuma se movendo em direção ao mar aberto.

Se um banhista ou surfista for apanhado por uma corrente de retorno deve pôr em prática a regra nº 5: Não entrar em pânico, nem tentar nadar contra a corrente. A regra nº 6 vem a seguir: Nadar em paralelo com a praia até que esteja fora da corrente. As correntes de retorno, na maioria das vezes, não ultrapassam os 12 metros de largura. Os bancos de areia, onde as ondas quebram, estão muito próximos, e são facilmente identificados pela espuma da quebra das ondas, as quais podem ser aproveitadas para o impulso final de volta à praia.

Se, ainda assim, o indivíduo não conseguir sair da corrente, entra na parada a regra nº 7: Boiar, calmamente, até que a corrente enfraqueça (geralmente além da arrebentação, na zona denominada "cabeça". Nadar, então, na diagonal em direção à praia.

Se nada disso der certo, o jeito é apelar para regra nº 8: Boiar (lembrar-se que no mar é bem mais fácil boiar em função da sua densidade, que é maior em relação à da água doce, basicamente por causa da salinidade, embora outros fatores possam contribuir para aumentá-la ou diminuí-la) e pedir ajuda.












Em resumo, é melhor sempre obedecer às regras nºs 1 e 2 para nunca ter problemas com o mar.

Bom veraneio.

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