segunda-feira, 22 de junho de 2009

MEU TIME, O UNIÃO

Eu tinha 14 anos quando descobri, por mim mesmo, que estava apto para jogar futebol, na categoria infanto-juvenil, em quaisquer dos dois clubes profissionais da cidade de Bagé, RS. Escolhi o Guarany FC porque tinha um compromisso sentimental com o clube e também porque um colega [Roberto Zaballa, o Betinho] que não era da minha aula, mas era do mesmo colégio, e que era o maior craque (não confundir com estas drogas que andam por aí) da chamada escolinha de futebol do clube me disse:“- Aparece lá! Os treinos são na quarta e na sexta-feira, mais ou menos, às 5 da tarde”.
Fui, digo, o meu pai me levou- no primeiro dia- e me apresentou ao treinador, o seu Pedro Pereira. Treinei no ataque do time reserva e o técnico, me disse para voltar na sexta-feira. Voltei e me apresentei melhor ainda. A chuteira ainda era o velho Kichute, apropriado para jogos em campos bem menores, mas que ficava “devendo” para um campo de dimensões oficiais e uma bola de tamanho e peso também oficiais, que às vezes ficava maior e mais pesada por causa da chuva que encharcava e expandia o seu couro.
Com dois dias de treino, somente, não fui convocado para o clássico Ba-Guá (Bagé x Guarany) da categoria, no domingo, no campo do GE Bagé (vitória do Guarany por 1 x 0). Por outro lado, na semana seguinte, virei titular do time para nunca mais sair.


Mas não era esta a história [cuja sequência vai ficar para outra oportunidade] que eu queria contar agora. O retrospecto é de antes, um pouco antes, quando o tal Kichute apareceu e quando o nosso bairro tinha cinco “campinhos” de futebol, cada um "pertencente" a turmas diferentes, separadas estas por afinidade, por vizinhança ou ambas. Os tais campinhos eram demarcados conforme a disponibilidade de espaço plano que apresentavam os terrenos. Eu ajudei a limpar [arrancando chircas e outras ervas daninhas] e marcar [com enxada] as linhas do campinho que tinha na frente da nossa casa.
Com base nas dimensões dos campos, de tamanhos bem semelhantes, apesar de nunca terem sido medidos nem projetados previamente, os times eram montados com, no máximo, seis para cada lado. Não era futebol-de-sete, mas também não era futebol-de-quadra, ou de salão, ou futsal, como hoje se diz. Ficava entre estas duas modalidades sem ser nenhuma delas. E a bola podia ser qualquer uma: de couro nºs 5, 4 ou 3 (nºs 2 e 1 não, porque eram muito pequenas); de plástico, do tipo Rivelino ou Tostão, da Trol, porque tinham tamanho e peso oficiais; de plástico furadas, meio-vazias e endurecidas (de tão velhas), mas que eram as melhores de se jogar.
Com o tempo alguns times de guris [com idades entre 11 e 15 anos] se formaram, e jogos entre equipes cada vez mais organizadas foram acontecendo, até que alguém inventou um campeonato entre essas equipes. Aguçaram-se as rivalidades, mas só dentro do campo.
Eu joguei pelo União, um time formado por uma meninada que morava numa parte mais alta do bairro. Dava para enxergar o campo deles lá da minha casa e, de vez em quando- ainda antes de conhecê-los- eu ia ver eles jogarem.
Num sábado à tarde, ao acaso, passei por ali e parei para olhar um jogo. Eles estavam perdendo por 4 x 0 para o Flamengo, um time formado por uns caras que eu já conhecia. Apesar do esforço e da valentia, os “heróis” do União não estavam conseguindo nem chegar perto do gol adversário. Cansado, um deles me perguntou se eu queria substituí-lo. Mesmo sem estar apropriadamente fardado, entrei no jogo. Em dez minutos marquei quatro gols, empatando um jogo que parecia perdido. Desesperados, os jogadores do tal Flamengo aproveitaram a chegada do meu amigo Dario- que estivera na minha casa à minha procura e soubera, pelos meus pais, que eu estava lá no campo do União- e chamaram ele para o jogo. Alto e exímio cabeceador, o Dario, que se intitulava Dadá [em alusão ao goleador Dadá Maravilha, este no auge da sua forma] desequilibrou a balança. No último lance do jogo aproveitando uma cobrança de escanteio, subiu e cabeceou forte para baixo, como manda o figurino, e para o fundo das redes, marcando o gol da vitória do time dele, o Flamengo.
Para minha surpresa os meus novos amigos não ficaram tristes por terem perdido o jogo. Mostraram-se até satisfeitos porque tinham saído de um 0 x 4 para um 4 x 4 e no final, mas somente no final, numa infelicidade momentânea de todo o time, tinham tomado um gol que lhes causara a derrota.
Os quatro gols que eu marquei em poucos minutos “assanharam” o João, que era considerado pelos outros como o presidente do time, e ele disse que queria me “contratar”. Sensibilizado pelo reconhecimento e pela consideração que aqueles caras que eu nem conhecia direito estavam tendo por mim naquela oportunidade, ao contrário de outros [que eu já conhecia e com os quais mantinha relações de amizade] que nunca me convidaram para jogar em time nenhum, aceitei de imediato e passei, dali em diante, a lutar como um leão, juntamente com os meus amigos, os gêmeos Adauto & Bastião (que era o goleiro), o João, o Paulo e o Tatu, pelas cores do União, um time formado por verdadeiros guerreiros.
Assim eu conheci aquela turma de amigos dos quais até hoje tenho boas recordações.

Umas observações: a camisa do time, era idêntica à do Fluminense FC, do Rio de Janeiro; para o resto do fardamento não havia regras, ou seja, o calção era de qualquer cor e a meia, idem; a “chuteira oficial” era o Kichute, é lógico.

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