Rio de Janeiro, agosto/setembro de 2014. Elas vieram de longe para uma experiência de seis semanas que nunca imaginaram vivenciar.
Fonte: Gazeta Russa
Masha Mironyuk, de Chelyabinsk/Rússia, estudante de Relações Internacionais, e Maria Semenchenok, de Moscou/Rússia, licenciada em Engenharia Aeronáutica, tiveram a oportunidade de chegar ao Rio de Janeiro através de um intercâmbio organizado pela AIESEC - uma organização sem fins lucrativos gerenciada por jovens, em parceria com outras organizações e instituições ao redor do mundo, cujos objetivos são o engajamento e desenvolvimento da juventude através de experiências de alto impacto - e a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
Elas se hospedaram na Favela de Santa Marta, conhecida no mundo todo por ter sido o local escolhido por Michael Jackson como cenário para o seu clip "They Don't Care About Us", em 1996. Naquela época, morar em Santa Marta era sujeitar-se a viver sob o jugo da guerra entre facções do tráfico de drogas. Santa Marta foi a primeira favela a ser pacificada, em 2008, mas ainda enfrenta muitos problemas de infraestrutura como, por exemplo, a quase inexistência de saneamento básico.
"Eu não sabia o que era uma favela, apenas tinha ouvido falar, mas não podia imaginar tudo isso: as casinhas na montanha, as ruas estreitas e as centenas de escadarias. Na primeira semana que passei aqui, tive um verdadeiro choque cultural."
"(...) Vim para fazer um intercâmbio através de uma organização internacional de estudantes (...)."
"(...) Alguns dias antes de chegar, me fizeram uma proposta de viver em uma favela e eu aceitei. Foi assim que cheguei à Santa Marta."
"(...) Eu li que antes era perigoso e que agora está muito mais tranquilo. Quando me disseram que iríamos viver em uma favela, não me preocupei muito. Me pareceu uma oportunidade única para conhecer uma parte da cidade que nem todo mundo vê. O Rio de Janeiro não é feito apenas de bairros ricos em frente à praia."
Masha Mironyuk, 20 anos.
“Antes de chegar, eu pensava que uma favela era simplesmente um bairro pobre, mas na realidade é um pequeno universo cheio de pessoas e de casas, nas quais vivem não apenas os desfavorecidos. As pessoas são muito amáveis, falavam conosco e tentavam nos ajudar, apesar de não entendermos português."
“(...) Para mim foi uma grande experiência. A princípio, você só pensa na pobreza, mas depois de algum tempo se dá conta de que as pessoas são muito amáveis e que vivem em uma comunidade, como se fosse uma grande família. Foi muito bom sair da zona de conforto e conhecer outra realidade, porque o Rio é isso, uma cidade de grandes contrastes."
Maria Semenchenok, 24 anos, que junto com Masha Mironiuk, deu aulas de criação de empresas, startup - situação que caracteriza um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza - e novos modelos de negócios a estudantes brasileiros.
Uns dias depois do impacto inicial que durou uma semana, subir os 550 degraus que separam o local de onde se hospedaram até a rua, já não parecia tão difícil. Isso ocorre quando o teleférico, que sobe até o topo da favela, estraga. Quem fica para trás depois da meia-noite - horário de encerramento da linha - também só volta a pé.
"(...)Não viveu na favela quem ainda não subiu 550 degraus a pé e debaixo de chuva”, afirmou Masha Mironiuk, em tom de brincadeira.
A jovem, que já consegue entender [um pouco] o português falado no Brasil, retorna aos seus estudos, em Cheliabynsk, com uma bagagem cultural, pelo menos, diferenciada, e talvez um pouco triste por ter que ir embora. O Rio de Janeiro, por certo, ficará para sempre entranhado em suas boas lembranças.