Contam que o Papai Noel, lá por dezembro de 1509, tendo partido dos arredores de Rovaniemi, na Lapônia, em sua longa viagem por toda a Europa (naquele tempo ele só andava por lá), resolveu parar para descansar próximo a um povoado de Riga, Livônia (atual Letônia). O trenó abarrotado de presentes e o vôo contra um vento forte de sudoeste, esgotara as renas que também precisavam, a essa altura, de um sono reparador. O velho Joulupukki, como é chamado em sua terra natal, resolveu procurar abrigo para pernoitar. Encontrou o que procurava, em uma trilha, sob uma gigantesca árvore centenária cujo tronco principal se desdobrava em três partes em direção às suas raízes, formando um abrigo natural onde o Papai Noel e suas renas podiam relaxar e recuperar suas forças, para depois retomar sua viagem.
Cuidadoso com os presentes o velho Noel resolveu retirá-los do trenó para salvaguardar suas encomendas. Então pendurou-os [até a altura que conseguiu subir] na copa da grande árvore, espalhando-os, harmoniosamente, por todos os galhos da mesma. Ao terminar o trabalho, extenuado, adormeceu sob a árvore.
No outro dia de manhã, muito cedo, quando nem bem o sol tinha lançado os seus primeiros raios sobre o campo [agora] nevado, um jovem aprendiz de ferreiro que todos os dias passava pelo local em direção ao seu trabalho, olhou para a árvore e notou que nos seus galhos, meio encobertos pela neve, pendiam volumes de vários tamanhos, em rústicos, porém vistosos, invólucros de papel pardo, e amarrados com fitas de pano vermelho. Na gruta formada pelas raízes da grande árvore, um velho de cabelos e barba brancos dormia, ressonando, enroscado em uma pele de urso polar. Aleksandr parou, chegou mais perto e, sem querer, assustou as renas que começaram a fazer barulho. Com medo de acordar e aborrecer o velho barbudo, afastou-se e [em seguida] decidiu correr para contar ao seu patrão a maravilha que tinha presenciado.
Em seguida vários homens e mulheres, atraídos pela novidade espalhada na ferraria, foram [aos poucos] se aproximando do local, mas logo ficaram sem entender o que havia ali de tão especial. Uma árvore gigante com raiz tripla [como as de um dente], exageradamente exposta, e só.
- "Mas não há nada aqui que não tivéssemos visto antes!"- exclamou um homem.
- "Este aprendiz de ferreiro é um mentiroso!"- gritou uma mulher mais exaltada.
- "Vamos dar-lhe uma surra!"- sugeriu uma anônima voz masculina.
E partiram tão "cegos" atrás do jovem trabalhador que ninguém se deu conta que o rapaz também estava ali no meio da multidão. Aleksandr, puxou seu capuz mais para frente, encobrindo melhor o seu rosto e, no meio da turba, também partiu em sua própria perseguição. A horda se movia a passos largos e decididos. O próprio perseguido, que os acompanhava incógnito, foi aos poucos diminuindo o comprimento dos seus passos até ficar para trás. Depois, quando aquela gente toda, enfurecida, se afastou um pouco mais, ele correu em sentido contrário.
E chegou [novamente] à base da árvore onde vira o velho e suas renas. De fato não tinha mais nada lá. Mas apurando a vista, notou que havia um pacote muito pequeno de papel pardo, adornado e amarrado com uma fita vermelha. O velho devia tê-lo esquecido, pois estava muito próximo do topo da árvore.
Com muita dificuldade subiu na velha árvore até alcançar seus galhos mais finos e, mesmo assim, não conseguiu chegar ao seu objetivo.
Enquanto isso a multidão, cada vez mais raivosa, retornava. E já o tinham visto na copa da árvore, e o que buscava. Então acercaram-se todos e ficaram assistindo, impressionados, o esforço de Aleksandr para buscar o misterioso embrulho que, por fim, foi resgatado. E nele havia apenas um bilhete enrolado em um seixo.
Não restavam mais dúvidas a respeito do que houvera dito o rapaz. E todas as pessoas que ali estavam, tomaram conhecimento do conteúdo da mensagem que dizia:
"Para os que em mim acreditarem, nenhuma explicação é necessária; para os que de mim duvidarem, nenhuma explicação é possível."
A partir de então o local [em torno da grande árvore] passou a ser considerado sagrado pelos habitantes da pequena vila. Em Riga os fatos e boatos se espalharam e a população entendeu que deveria, no mês do natal, enfeitar com presentes a gigantesca árvore para esperar a volta do Papai Noel, ou o que ele representava. E no ano seguinte (1510) surgiu a primeira- ou se quiserem, a segunda- árvore de natal que se tem notícia no mundo.
Hoje ela é enfeitada todos os anos e fica no centro de uma bela praça de um bairro da cidade. Uma estátua de bronze, de corpo inteiro, de um homem com instrumentos de ferreiro nas mãos, está ali próxima. Na placa que a identifica está escrito: "Aleksandr, kalējs- mēs uzskatām".
Ou, traduzido para o português: "Aleksandr, ferreiro- nós acreditamos".