2019. No sudeste da Europa o aumento do comércio de armas e das tensões entre os grupos étnicos hostis dispararam um sinal de alerta.
Em 26 de julho a Romênia anunciou que interceptou, no Danúbio, e confiscou, em função da ocupação da península da Crimeia por parte da Rússia, em 2014, uma transferência de armas à Sérvia, descritas como 30 tanques de guerra modernizados T-72S e 30 blindados anfíbios BRDM-2 (Боевая Разведывательная Дозорная Машина). A Rússia, em contrapartida, utilizou o espaço aéreo da Hungria, para poder encaminhar outra leva de tanques de guerra para a Sérvia, que ambiciona modernizar suas forças e montar uma poderosa indústria de armamentos.
Tanques T-72S e carros blindados anfíbios BRDM-2, russos, transportados em barcaças através do rio Danúbio, e destinados à Sérvia, são confiscados pelas autoridades romenas.
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O governo sérvio tem anunciado que atacará Kosovo, se necessário, no caso, se o país criar seu próprio exército. O estabelecimento de um exército kosovar foi decidido em dezembro/2018 pelo parlamento, em Pristina.
Os novos membros da União Europeia, Polônia, Hungria e Bulgária, estão rapidamente modernizando seus arsenais, irremediavelmente obsoletos, de estilo soviético. E todos os países da região têm programas de armamentos de longo prazo, dependendo do país, de 2014 ou 2017 a 2026 ou até 2030.
Esses países são também membros da OTAN. Eles compram suas novas armas em bom equilíbrio político - parte nos EUA; parte na UE. A Polônia é o peso pesado da região. O país aumentou maciçamente seus gastos militares - em 2017 para dez bilhões; 2018 até para doze bilhões de dólares. É agora um dos poucos membros da OTAN a cumprir o mandato de gastos de defesa dos EUA de dois por cento do Produto Interno Bruto (PIB) exigido pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Até 2030, Varsóvia quer ultrapassar esse número e gastar 2,5% de seu PIB em armamentos, especialmente para comprar aeronaves F-35, americanas.
A Hungria também está considerando a compra do F-35 e novamente aumentará seu orçamento militar em 20%, em 2020. Tanques alemães Leopard e helicópteros de ataque Airbus estão na lista de reforços. A Romênia também ampliou seus gastos com defesa: em 2017, dobrou seus investimentos com defesa, de US$ 2 bilhões para US$ 4 bilhões. E a Croácia quer comprar jatos de combate F-16, americanos, o mais rápido possível para substituir seus obsoletos MiG-21s.
Tudo isso equivale ao fortalecimento da OTAN na região, por isso não é surpreendente que a Rússia se oponha. Enquanto a OTAN na ex-Iugoslávia se concentra principalmente na Albânia, no Kosovo e na Croácia, a Rússia concentra-se na Sérvia e na república sérvia da Bósnia, a Republika Srpska. Enquanto os Estados Unidos têm uma das suas maiores bases militares no Kosovo, Camp Bondsteel, a Rússia quer construir uma base militar na República Sérvia da Bósnia.
Como os sérvios são economicamente mais fracos do que os membros da UE na região, Moscou lhes dá armas: a Sérvia recebeu, além dos tanques supramencionados, seis bombardeiros do tipo MiG-29; a Bielorrússia acrescentou mais oito. A última entrega foi em fevereiro/2019. A Sérvia tem agora - com a modernização das aeronaves - concluída - a força aérea mais forte da região.
Os aviões e os tanques são presentes, mas eles custam dinheiro de qualquer maneira: De acordo com relatos da mídia, Belgrado tem que pagar, sozinha, para a modernização das aeronaves US$ 185 milhões. Sistemas de defesa aérea do tipo BuK 2 e BUK-M3 vêm a seguir.
A Sérvia vem gastando mais dinheiro em compras de armamentos em relação aos demais países da antiga Iugoslávia - em 2017, foi de US$ 731 milhões. A Albânia ficou em segundo lugar com US$ 168 milhões. Se incluirmos os planos do Kosovo de gastar 98 milhões de dólares, em 2020, com o seu exército planejado (força-alvo 5000 soldados), então o fator albanês pesa muito na balança do equilíbrio militar nos Bálcãs.
A nova corrida armamentista está entrelaçada com argumentos políticos. A Albânia e o Kosovo decidiram sobre uma união aduaneira e estão crescendo juntos economicamente. Na Sérvia, isso é visto como uma tentativa de criar uma "Grande Albânia" - um termo com o qual o governo albanês gosta de provocar.
Além disso, especula-se que o presidente sérvio Aleksandar Vulin e o presidente kosovar Hashim Thaci estejam dispostos a resolver politicamente o conflito no Kosovo por meio de intercâmbios territoriais. Isso, por sua vez, poderia levar a efeitos de dominó - como uma divisão da Bósnia com uma conexão de seus habitantes croatas e sérvios à respectiva pátria, ou até mesmo a uma divisão na Macedônia, onde moram muitos albaneses.
Entendendo que tais ideias têm muito potencial para conflito, a UE está tentando desarmar esse debate. No momento, o assunto não está mais na agenda. Os EE. UU., no entanto, parecem abertos a uma troca de terras se isto trouxer estabilidade em longo prazo. O que é certo, no entanto, é que quanto mais todos os envolvidos vão melhorando seus arsenais, mais perigosos se tornam quaisquer desentendimentos políticos na região.
Fonte: Boris Kálnoky, Budapest/Magyarország - https://www.welt.de/