terça-feira, 5 de outubro de 2010

O PRESERVATIVO

Por Sergio M. P. Fontana
Eliana lembra bem do dia em que começou a torcer pelo Colorado. Era adolescente em fase pré-menstrual, talvez. Recorda que foi num Gre-Nal no estádio Olímpico. O pai dela, gremista doente, sócio e conselheiro do Grêmio, achando que seria interessante despertar a paixão da menina pelo futebol, imaginou que aquele seria o momento. Nada melhor do que um jogo contra o principal rival para que o seu rebento único começasse, aos poucos, a admirar tudo o que se referisse ao Grêmio FBPA.

O Gre-Nal número 335 foi disputado pelo Campeonato Brasileiro de 1997 e ficou conhecido como o Gre-Nal dos 5 a 2. O resultado do jogo, a favor do Internacional, sepultou as pretensões do pai de Eliana com relação à futura preferência clubística da filha. Encantada com aquele moreno forte, ostentando um uniforme onde se destacava uma reluzente camisa vermelha, ela abriu seu coração quando o seu eleito da tarde liquidou o jogo, fazendo uma jogada bonita que resultou em gol, e depois marcando, ele mesmo, dois gols. A massacrante vitória colorada mexeu com os sentimentos de Eliane, no entanto ela não foi capaz de manifestar naquele dia o seu entusiasmo e a paixão que começava a sentir pelo SC Internacional.
Fingindo não gostar de futebol, não mais foi aos jogos do Grêmio com o pai. Não queria dar-lhe o desprazer de descobrir que ela gostava era do Colorado.

O tempo passou e a sua torcida pelo time da camisa vermelha foi mantida em segredo até que ela se apaixonou [de verdade] por um namorado. Esse começou a freqüentar a casa, a fazer amizade com a família, especialmente com o sogro, pois tinham algo em comum: o cara também era gremista lunático. Para ele Eliana confessou que era torcedora do Internacional, mas Pablo, o namorado, deu mostras de não se importar com o “defeito” da sua amada, pois isso nada significava diante da beleza escultural de Eliana que ele não cansava de admirar. E prometeu a ela guardar o segredo a sete-chaves.

O namoro deu tão certo que Eliana superou a sua antipatia às cores azul, preto e branco e passou a acompanhar Pablo aos jogos do Grêmio, no Olímpico, para a alegria do próprio namorado, do seu pai e da sua mãe, que se não era gremista fanática, nutria alguma simpatia pelo tricolor da Azenha. Eliana gostaria também de comparecer aos jogos do seu Colorado, no Beira-Rio, mas Pablo, inflexível quando o assunto tendia a favorecer o “inimigo”, dizia NÃO a quaisquer das sondagens da amada em dias de jogos do Inter.

O desejo de ficarem cada vez mais próximos logo foi tomando conta do jovem casal apaixonado. Escapavam pelos cantos e arriscavam uns amassos mais fortes, mas Eliana tinha medo de levar adiante o que para ambos era iminente. Imaginava seu pai aparecendo de repente, em qualquer lugar em que estivessem, e dizia NÃO a Pablo.
Até que um dia, o namorado a convenceu. Iriam a uma festa de formatura e de lá para um motel chic, inaugurando com chave-de-ouro uma nova fase do romance. Ela tremia; tinha medo de causar um tremendo desgosto para os seus pais. Mas foi.

Receosa de não estar á altura das expectativas do namorado, Eliana encerrou-se no banheiro e, sob o chuveiro, pôs-se a pensar como deveria ressurgir diante de Pablo. Nua, mas enrolada na toalha branca? Só de lingerie? Ou completamente nua, para causar mais impacto?
Decidiu-se pelo que achava ser mais seguro: Enrolada na toalha branca e de lingerie.
Vinte e dois minutos tinham se passado. Pablo a estaria aguardando ansioso ainda no grande sofá vermelho da suíte? Ou já teria ousado ficar nu embaixo dos lençóis de seda da gigantesca cama ovalada?
Eliana abriu a porta do banheiro, lançou-se ao corredor que dava para o quarto e adentrou-o. Cabelos negros, soltos e levemente cacheados sobre os ombros; o andar bamboleante, descalça, mas na ponta dos pés, como se estivesse calçando uma sandália alta. Pablo estava na cama, deitado e nu, mas protagonizando um dantesco quadro: esquecera de tirar os carpins pretos; e dormia, de barriga para cima, já ensaiando roncar; na mão direita um preservativo em vias de ser colocado.

Eliana enquadrou a cena, deu marcha-ré e, em silêncio, recolheu seus pertences, vestiu-se, chamou um táxi e foi embora.
Não mais atendeu os telefonemas de Pablo. Não mais se falaram em muitos meses, até que se encontraram na rua, numa quarta-feira, ao acaso, já sem nenhum brilho no olhar:
- Ficaste louca? Esperei mais de duas horas! Aí pensei que tu tinhas desmaiado no banheiro! Quando fui olhar... Me deixaste lá, plantado, fazendo papel de trouxa!
- Louco és tu de acreditar que eu ia transar contigo daquele jeito!
- Daquele jeito como, mulher?
- Pelado e de carpim até dava pra encarar, mas com preservativo do Grêmio, nem pensar!

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