Quando comecei a me dar conta da importância que teria o futebol e o Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense na minha vida, Juarez Teixeira já não defendia as cores do imortal tricolor, mas sem que eu soubesse ele estava ali, bem pertinho de casa, jogando no Grêmio Esportivo Bagé.
De tanto ouvir os relatos do meu pai e da minha mãe sobre a técnica e a força de Juarez, o leão do Olímpico, passei a imaginar, nos meus sonhos de criança, que com ele em campo o Grêmio jamais perdeu uma partida.
Juarez, o Leão do Olímpico
Por Mariana Mondini - mariana.mondini@diariogaucho.com.br
Reprodução [com alguns acréscimos e reajustes] da matéria da jornalista Mariana Mondini* para o Diário Gaúcho - Porto Alegre, RS.
Simpático senhor de fala mansa e olhos claros liderou o ataque gremista nas décadas de 1950 e 1960.
Os 83 anos de vida não tiraram de Juarez Teixeira a característica que lhe rendeu seu apelido. Juarez continua um tanque por fora. Também conhecido por Leão do Olímpico, o simpático senhor de fala mansa e olhos claros liderou o ataque gremista nas décadas de 1950 e 1960, época em que jogador de futebol era tratado por "senhor" e o amor à camiseta sobressaía. Destemido, goleador e raçudo, o Tanque era o perfil de tudo o que o Grêmio sempre cobrou para si.
– Minha característica era de luta, de vitória. Tinha uma vontade de leão - resume o ex-atacante.
Referência de jogador até os dias de hoje, Juarez também é um exemplo de conduta dentro da família. E credita ao futebol tudo o que aprendeu.
– Ele é um exemplo para nós de dignidade e honestidade, um homem de palavra, e muito querido com todos - destaca a neta Andréa Luciane Teixeira da Silva.
Tanque por fora, amável por dentro.
Diário Gaúcho - O senhor ganhou o apelido de "tanque". Por quê?
Juarez Teixeira - Pela minha maneira de jogar, minha força, minha luta. Mas gosto mais do "leão do Olímpico", porque tanque já houve outros. Leão era só eu. Tinha uma vontade de leão. Não tinha grande técnica, mas o suficiente para ser titular em qualquer clube do mundo. E era com esse espírito que jogava.
DG - Como começou a carreira?
Juarez - Com cinco anos, minha família foi morar em Itajaí. Sempre jogava bola com a gurizada. Até que fui para o Exército, aos 18 anos. Lá, tinha um tenente do clube Palmeiras (de Blumenau), que hoje não existe mais. Ele fez uma peneira no Exército e me levou. Comecei no Palmeiras Esporte Clube de Blumenau. Não queria ir, mas ele mandou um recado: "Diz ao Juarez que no Exército não tem querer". Já cheguei titular. Isso foi em 1948. Em 1955, vim para o Grêmio. Fiquei até 1961, quando fui para a Argentina. Depois voltei por mais um ano. Já tinha praticamente pendurado a botina, como se diz, e veio o Bagé.
DG - Dava para ficar rico jogando bola?
Juarez - (pausa) Dava. Hoje é muito mais fácil. Naquele tempo não se enriquecia. Trabalhando bem, a gente tinha uma vida bem estável. Era bom dinheiro. Não era o que é hoje, mas era muito bom. Na época, diziam que ganhávamos demais. Lembro-me, quando estava no Grêmio, no fim da carreira, Pelé renovou com o Santos, e com ele no time, os amistosos tinham um preço. Sem ele, outro.
DG - O senhor teve outra profissão?
Juarez - Depois, ingressei na Caixa Econômica Federal. Entrei na faculdade e fiz Ciências Contábeis. Foi só.
DG - Dava para sobreviver com o dinheiro do futebol?
Juarez - Não. Eu precisava trabalhar.
DG - Os jogadores eram mais habilidosos?
Juarez - Joguei contra Garrincha, Pelé, Quarentinha. Jogamos na Europa. O que difere é a velocidade. Hoje, o futebol é muito mais físico, veloz. Em compensação, perdeu um pouco da habilidade. O Grêmio é que inovou, até no Brasil, com Oswaldo Rolla, o Foguinho. O Grêmio não tinha craques, mas os jogadores tinham função definida, e se cumpria, sem tirar a criatividade de cada um. Era o lema do Oswaldo Rolla.
DG - Como era a preparação física?
Juarez - Quase não havia. No Grêmio, tinha, porque Foguinho fora com o Cruzeiro à Europa, e era observador, ia ver os treinos dos clubes. Estudioso, comprou livros de Educação Física, e aplicava à moda dele. Nos botava naquela escada das sociais. Subíamos dez, 12 vezes! Era excelente aquilo. A gente notava a diferença. Corria e lutava mais que o adversário. Jogava 90 minutos e não havia lesões. Jogávamos um futebol competitivo, ataque e defesa em bloco.
DG - Havia muito jogador que fumava ou bebia?
Juarez - Uns fumavam e bebiam. A gente saía do clube, às vezes, não com frequência, e ia a barzinhos na Rua da Praia e na Riachuelo, tomava um chope ou dois, na terça-feira. Sexta, concentrava. E não fazia mal. Hoje é diferente, e amanhã será diferente de hoje.
DG - Havia trabalhos específicos para defensores, meio-campistas e atacantes?
Juarez - Não. A filosofia era: todos têm saúde, são atletas, então, fazem o mesmo exercício. Hoje está tudo mudado. Tudo conversa mole. Futebol é 90 minutos, preparo físico, alimentação e treino. Sem mistério. Vejo cada bobagem por aí! Fazem tanto, dizem tanto, e o futebol é tão simples! Joguei e sei. O que me atrapalhava era a marcação.
DG - E o Barcelona?
Juarez - É a melhor equipe do mundo. Reconheço que é a melhor, mas não sei se o Grêmio daquela época, meu Grêmio, não jogaria de igual para igual. Tenho certeza. Não pelos jogadores, mas pelo entrosamento, pelo esquema que tínhamos. Se eu saía, o outro sabia o que fazer. Dois não marcavam um. Só quem jogou sabe. Foguinho dizia: "Se o adversário for melhor, só nos resta uma coisa (levanta-se e faz o gesto): dar parabéns, porque fizemos tudo, e ele foi melhor" .
DG - Jogava-se por amor à camisa?
Juarez - Sim. Pensava-se no dinheiro no fim do mês ou quando fazia o contrato. Quando vestia a camisa, ou nos treinos, não se pensava em dez centavos. Um não corria mais que outro por ganhar mais. Cada um brigava para fazer o melhor. Dentro do campo, o nome está em jogo.
DG - Algum jogador se assemelha ao senhor?
Juarez - Não, porque os treinadores agem diferente. É repugnante... Uso este termo. Hoje, são 30, 40 bolas, cones, cinco auxiliares. Pode ter isso, mas tem de ter um ou dois dias de treinamento conjunto. Foguinho dizia, quando pediam para retardar o treino (por causa do calor): "O jogo é às 15h? Vamos treinar às 15h" (risos).
DG - O senhor foi campeão Pan-Americano pela Seleção Brasileira em 1956. Qual a emoção de defender o país?
Juarez - Muito significativa, porque a gente deixa milhões de brasileiros alegres. A gente vem com a alma lavada.
DG - Algum conselho a jovens que começam?
Juarez - Seja obediente. Evite álcool e drogas. Ah, e tenha amor à camiseta seja onde for.
DG - Qual o principal ensinamento do futebol?
Juarez - (pausa) O futebol me ensinou tudo. Cumprir obrigações, ganhar dinheiro, ter paciência, ser educado. Não deixei inimigo. Na pista as divergências terminavam.
DG - No Grêmio, o senhor viveu a carreira no Olímpico. Como é ver o clube ir para a casa nova?
Juarez - Sinto, mas tudo evolui. Quando cheguei aqui, lamentavam ter saído da Baixada. Hoje é o Olímpico. Joguei ali, talvez veja a demolição, mas tudo faz parte da evolução do futebol.
DG - O que é imprescindível para jogar?
Juarez - Não precisa ser craque. O treinador vai dizer o que quer. Agora, atacante, não! Foguinho dizia: "Armar a defesa não é difícil, ataque é que é". Fico vendo na tevê e pensando como jogaria... O jogo da vida? "Pela importância, o primeiro Gre-Nal. Cheguei aqui com outros quatro "catarinas". Não era comum vir catarinense para cá. Eu caminhava, pegava o bonde para treinar e ouvia conversa de futebol. Só que não nos conheciam, e diziam: "Agora o Grêmio trouxe esses catarinas, não jogam nada, só comem banana". E eu ouvindo. Isso me fez pensar na responsabilidade. O Grêmio estava numa fase como a de hoje. Um cara me perguntou, no Olímpico: "O que achas do Gre-Nal, hoje? A gente sempre vem bem e, quando chega o Gre-Nal, estraga tudo." Gravei aquilo. Eu não sabia nem a cor da camisa do Internacional. Sabia que era um clube importante, tinha a hegemonia aqui. Pensei: "É importante demais, não podemos perder". Entramos em campo primeiro. Depois, o Inter. Naquele momento, me deu um sentimento de vitória. Começou o jogo, eles saíram ganhando, e empatamos no primeiro tempo. Recebi a bola pela meia esquerda, final de jogo, e tinha de decidir. Entrava no bico da área, e pensei: "Tenho de buscar o gol, vou tocar no meio dos dois (Odorico e Florindo), que estão indecisos". Toquei no meio, ela passou, e entrei ali. Chutei. La Paz era o goleiro. Foi rasteiro, passou por ele, em direção ao poste esquerdo. Nisso, veio o uruguaio Zunino e entrou com bola e tudo."
Opinião
Lauro Quadros, comentarista do programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha:
"O Grêmio da década de 1950, do Foguinho, virou em relação ao Inter. Era um time com a característica de futebol competitivo, a cara do Foguinho. E Juarez, como ninguém, retratava essa virilidade. Camelinho, um torcedor da época, dizia que, com Juarez na área, dava "polvadeira" (levantava poeira). O Tanque compunha uma dupla de ataque inesquecível com Gessy. Gessy era técnico, habilidoso. Juarez era o tanque."
Vida e obra
Nasceu em Blumenau, SC, em 20 de setembro de 1928, mas foi registrado em Itajaí. Atuou no Grêmio entre 1955 e 1962. Num Gre-Nal, em 1960, o Grêmio foi para o intervalo vencendo por 2 a 1. No vestiário, o diretor Fernando Kroeff prometeu: a gratificação dobraria a cada gol marcado no segundo tempo. Juarez fez dois, e o Grêmio enfiou 5 a 1 no Internacional. Não há precisão sobre o número de gols marcados com a camisa tricolor. Entrou para o conselho deliberativo do Grêmio em 1983. Depois de pendurar as chuteiras, ainda cursou Ciências Contábeis. É aposentado pela Caixa Econômica Federal. É viúvo de Paulina Cardozo Teixeira, com quem foi casado durante 60 anos - começaram a namorar aos 18 anos. Da união, nasceram Selma e Mabel. Tem seis netos e dois bisnetos. Um dos netos, Miguel, 15 anos, seguiu os passos do avô e é atacante no Juvenil do Grêmio.
Ficha
Nome: Juarez Teixeira
Apelidos: Leão do Olímpico e Tanque
Nascimento: 20/09/1928
Local: Blumenau/SC
Período no Grêmio: 1955 a 1962
Posição: Centroavante
Estréia: 31/03/1955 – Grêmio 7 x 0 Seleção de Paysandu (URU)
Despedida: 16/12/1962 – Grêmio 2 x 0 Internacional
Clubes
Palmeiras Esporte Clube (Blumenau – SC)
Jabaquara Atlético Clube (Santos – SP)
Clube Atlético Ferroviário (Curitiba – PR)
Joinville Esporte Clube (Joinville – SC)
Grêmio Esportivo Flamengo (Caxias do Sul – RS)
Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense (Porto Alegre – RS)
Club Atlético Newell's Old Boys (Rosário – Santa Fé - Argentina)
Grêmio Esportivo Bagé (Bagé – RS)
Títulos
Pentacampeão da Cidade de Porto Alegre
Pentacampeão Gaúcho
Campeão do Troféu Internacional de Atenas
Campeão do Troféu Internacional de Salônica
Supercampeão Gaúcho e Campeão Sul-Brasileiro, invicto
Campeão Pan-Americano pelo Brasil
___________________________________________________________________
*Mariana Mondini é jornalista, repórter e setorista do Grêmio no jornal Diário Gaúcho.
Fontes Juarez Teixeira; site oficial do Grêmio; jornal DIÁRIO GAÚCHO.
De tanto ouvir os relatos do meu pai e da minha mãe sobre a técnica e a força de Juarez, o leão do Olímpico, passei a imaginar, nos meus sonhos de criança, que com ele em campo o Grêmio jamais perdeu uma partida.
Juarez, o Leão do Olímpico
Por Mariana Mondini - mariana.mondini@diariogaucho.com.br
Reprodução [com alguns acréscimos e reajustes] da matéria da jornalista Mariana Mondini* para o Diário Gaúcho - Porto Alegre, RS.
Simpático senhor de fala mansa e olhos claros liderou o ataque gremista nas décadas de 1950 e 1960.
Os 83 anos de vida não tiraram de Juarez Teixeira a característica que lhe rendeu seu apelido. Juarez continua um tanque por fora. Também conhecido por Leão do Olímpico, o simpático senhor de fala mansa e olhos claros liderou o ataque gremista nas décadas de 1950 e 1960, época em que jogador de futebol era tratado por "senhor" e o amor à camiseta sobressaía. Destemido, goleador e raçudo, o Tanque era o perfil de tudo o que o Grêmio sempre cobrou para si.
– Minha característica era de luta, de vitória. Tinha uma vontade de leão - resume o ex-atacante.
Referência de jogador até os dias de hoje, Juarez também é um exemplo de conduta dentro da família. E credita ao futebol tudo o que aprendeu.
– Ele é um exemplo para nós de dignidade e honestidade, um homem de palavra, e muito querido com todos - destaca a neta Andréa Luciane Teixeira da Silva.
Tanque por fora, amável por dentro.
Foto Mateus Bruxel /Agência RBS
Aos 83 anos, Juarez costuma visitar o Olímpico Monumental, lugar onde durante sete anos deixou seu sangue e suor, conquistando o respeito e a admiração dos torcedores.
Aos 83 anos, Juarez costuma visitar o Olímpico Monumental, lugar onde durante sete anos deixou seu sangue e suor, conquistando o respeito e a admiração dos torcedores.
Diário Gaúcho - O senhor ganhou o apelido de "tanque". Por quê?
Juarez Teixeira - Pela minha maneira de jogar, minha força, minha luta. Mas gosto mais do "leão do Olímpico", porque tanque já houve outros. Leão era só eu. Tinha uma vontade de leão. Não tinha grande técnica, mas o suficiente para ser titular em qualquer clube do mundo. E era com esse espírito que jogava.
DG - Como começou a carreira?
Juarez - Com cinco anos, minha família foi morar em Itajaí. Sempre jogava bola com a gurizada. Até que fui para o Exército, aos 18 anos. Lá, tinha um tenente do clube Palmeiras (de Blumenau), que hoje não existe mais. Ele fez uma peneira no Exército e me levou. Comecei no Palmeiras Esporte Clube de Blumenau. Não queria ir, mas ele mandou um recado: "Diz ao Juarez que no Exército não tem querer". Já cheguei titular. Isso foi em 1948. Em 1955, vim para o Grêmio. Fiquei até 1961, quando fui para a Argentina. Depois voltei por mais um ano. Já tinha praticamente pendurado a botina, como se diz, e veio o Bagé.
DG - Dava para ficar rico jogando bola?
Juarez - (pausa) Dava. Hoje é muito mais fácil. Naquele tempo não se enriquecia. Trabalhando bem, a gente tinha uma vida bem estável. Era bom dinheiro. Não era o que é hoje, mas era muito bom. Na época, diziam que ganhávamos demais. Lembro-me, quando estava no Grêmio, no fim da carreira, Pelé renovou com o Santos, e com ele no time, os amistosos tinham um preço. Sem ele, outro.
DG - O senhor teve outra profissão?
Juarez - Depois, ingressei na Caixa Econômica Federal. Entrei na faculdade e fiz Ciências Contábeis. Foi só.
DG - Dava para sobreviver com o dinheiro do futebol?
Juarez - Não. Eu precisava trabalhar.
DG - Os jogadores eram mais habilidosos?
Juarez - Joguei contra Garrincha, Pelé, Quarentinha. Jogamos na Europa. O que difere é a velocidade. Hoje, o futebol é muito mais físico, veloz. Em compensação, perdeu um pouco da habilidade. O Grêmio é que inovou, até no Brasil, com Oswaldo Rolla, o Foguinho. O Grêmio não tinha craques, mas os jogadores tinham função definida, e se cumpria, sem tirar a criatividade de cada um. Era o lema do Oswaldo Rolla.
DG - Como era a preparação física?
Juarez - Quase não havia. No Grêmio, tinha, porque Foguinho fora com o Cruzeiro à Europa, e era observador, ia ver os treinos dos clubes. Estudioso, comprou livros de Educação Física, e aplicava à moda dele. Nos botava naquela escada das sociais. Subíamos dez, 12 vezes! Era excelente aquilo. A gente notava a diferença. Corria e lutava mais que o adversário. Jogava 90 minutos e não havia lesões. Jogávamos um futebol competitivo, ataque e defesa em bloco.
DG - Havia muito jogador que fumava ou bebia?
Juarez - Uns fumavam e bebiam. A gente saía do clube, às vezes, não com frequência, e ia a barzinhos na Rua da Praia e na Riachuelo, tomava um chope ou dois, na terça-feira. Sexta, concentrava. E não fazia mal. Hoje é diferente, e amanhã será diferente de hoje.
DG - Havia trabalhos específicos para defensores, meio-campistas e atacantes?
Juarez - Não. A filosofia era: todos têm saúde, são atletas, então, fazem o mesmo exercício. Hoje está tudo mudado. Tudo conversa mole. Futebol é 90 minutos, preparo físico, alimentação e treino. Sem mistério. Vejo cada bobagem por aí! Fazem tanto, dizem tanto, e o futebol é tão simples! Joguei e sei. O que me atrapalhava era a marcação.
DG - E o Barcelona?
Juarez - É a melhor equipe do mundo. Reconheço que é a melhor, mas não sei se o Grêmio daquela época, meu Grêmio, não jogaria de igual para igual. Tenho certeza. Não pelos jogadores, mas pelo entrosamento, pelo esquema que tínhamos. Se eu saía, o outro sabia o que fazer. Dois não marcavam um. Só quem jogou sabe. Foguinho dizia: "Se o adversário for melhor, só nos resta uma coisa (levanta-se e faz o gesto): dar parabéns, porque fizemos tudo, e ele foi melhor" .
DG - Jogava-se por amor à camisa?
Juarez - Sim. Pensava-se no dinheiro no fim do mês ou quando fazia o contrato. Quando vestia a camisa, ou nos treinos, não se pensava em dez centavos. Um não corria mais que outro por ganhar mais. Cada um brigava para fazer o melhor. Dentro do campo, o nome está em jogo.
DG - Algum jogador se assemelha ao senhor?
Juarez - Não, porque os treinadores agem diferente. É repugnante... Uso este termo. Hoje, são 30, 40 bolas, cones, cinco auxiliares. Pode ter isso, mas tem de ter um ou dois dias de treinamento conjunto. Foguinho dizia, quando pediam para retardar o treino (por causa do calor): "O jogo é às 15h? Vamos treinar às 15h" (risos).
DG - O senhor foi campeão Pan-Americano pela Seleção Brasileira em 1956. Qual a emoção de defender o país?
Juarez - Muito significativa, porque a gente deixa milhões de brasileiros alegres. A gente vem com a alma lavada.
DG - Algum conselho a jovens que começam?
Juarez - Seja obediente. Evite álcool e drogas. Ah, e tenha amor à camiseta seja onde for.
DG - Qual o principal ensinamento do futebol?
Juarez - (pausa) O futebol me ensinou tudo. Cumprir obrigações, ganhar dinheiro, ter paciência, ser educado. Não deixei inimigo. Na pista as divergências terminavam.
DG - No Grêmio, o senhor viveu a carreira no Olímpico. Como é ver o clube ir para a casa nova?
Juarez - Sinto, mas tudo evolui. Quando cheguei aqui, lamentavam ter saído da Baixada. Hoje é o Olímpico. Joguei ali, talvez veja a demolição, mas tudo faz parte da evolução do futebol.
DG - O que é imprescindível para jogar?
Juarez - Não precisa ser craque. O treinador vai dizer o que quer. Agora, atacante, não! Foguinho dizia: "Armar a defesa não é difícil, ataque é que é". Fico vendo na tevê e pensando como jogaria... O jogo da vida? "Pela importância, o primeiro Gre-Nal. Cheguei aqui com outros quatro "catarinas". Não era comum vir catarinense para cá. Eu caminhava, pegava o bonde para treinar e ouvia conversa de futebol. Só que não nos conheciam, e diziam: "Agora o Grêmio trouxe esses catarinas, não jogam nada, só comem banana". E eu ouvindo. Isso me fez pensar na responsabilidade. O Grêmio estava numa fase como a de hoje. Um cara me perguntou, no Olímpico: "O que achas do Gre-Nal, hoje? A gente sempre vem bem e, quando chega o Gre-Nal, estraga tudo." Gravei aquilo. Eu não sabia nem a cor da camisa do Internacional. Sabia que era um clube importante, tinha a hegemonia aqui. Pensei: "É importante demais, não podemos perder". Entramos em campo primeiro. Depois, o Inter. Naquele momento, me deu um sentimento de vitória. Começou o jogo, eles saíram ganhando, e empatamos no primeiro tempo. Recebi a bola pela meia esquerda, final de jogo, e tinha de decidir. Entrava no bico da área, e pensei: "Tenho de buscar o gol, vou tocar no meio dos dois (Odorico e Florindo), que estão indecisos". Toquei no meio, ela passou, e entrei ali. Chutei. La Paz era o goleiro. Foi rasteiro, passou por ele, em direção ao poste esquerdo. Nisso, veio o uruguaio Zunino e entrou com bola e tudo."
Opinião
Lauro Quadros, comentarista do programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha:
"O Grêmio da década de 1950, do Foguinho, virou em relação ao Inter. Era um time com a característica de futebol competitivo, a cara do Foguinho. E Juarez, como ninguém, retratava essa virilidade. Camelinho, um torcedor da época, dizia que, com Juarez na área, dava "polvadeira" (levantava poeira). O Tanque compunha uma dupla de ataque inesquecível com Gessy. Gessy era técnico, habilidoso. Juarez era o tanque."
Vida e obra
Nasceu em Blumenau, SC, em 20 de setembro de 1928, mas foi registrado em Itajaí. Atuou no Grêmio entre 1955 e 1962. Num Gre-Nal, em 1960, o Grêmio foi para o intervalo vencendo por 2 a 1. No vestiário, o diretor Fernando Kroeff prometeu: a gratificação dobraria a cada gol marcado no segundo tempo. Juarez fez dois, e o Grêmio enfiou 5 a 1 no Internacional. Não há precisão sobre o número de gols marcados com a camisa tricolor. Entrou para o conselho deliberativo do Grêmio em 1983. Depois de pendurar as chuteiras, ainda cursou Ciências Contábeis. É aposentado pela Caixa Econômica Federal. É viúvo de Paulina Cardozo Teixeira, com quem foi casado durante 60 anos - começaram a namorar aos 18 anos. Da união, nasceram Selma e Mabel. Tem seis netos e dois bisnetos. Um dos netos, Miguel, 15 anos, seguiu os passos do avô e é atacante no Juvenil do Grêmio.
Ficha
Nome: Juarez Teixeira
Apelidos: Leão do Olímpico e Tanque
Nascimento: 20/09/1928
Local: Blumenau/SC
Período no Grêmio: 1955 a 1962
Posição: Centroavante
Estréia: 31/03/1955 – Grêmio 7 x 0 Seleção de Paysandu (URU)
Despedida: 16/12/1962 – Grêmio 2 x 0 Internacional
Clubes
Palmeiras Esporte Clube (Blumenau – SC)
Jabaquara Atlético Clube (Santos – SP)
Clube Atlético Ferroviário (Curitiba – PR)
Joinville Esporte Clube (Joinville – SC)
Grêmio Esportivo Flamengo (Caxias do Sul – RS)
Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense (Porto Alegre – RS)
Club Atlético Newell's Old Boys (Rosário – Santa Fé - Argentina)
Grêmio Esportivo Bagé (Bagé – RS)
Títulos
Pentacampeão da Cidade de Porto Alegre
Pentacampeão Gaúcho
Campeão do Troféu Internacional de Atenas
Campeão do Troféu Internacional de Salônica
Supercampeão Gaúcho e Campeão Sul-Brasileiro, invicto
Campeão Pan-Americano pelo Brasil
___________________________________________________________________
*Mariana Mondini é jornalista, repórter e setorista do Grêmio no jornal Diário Gaúcho.
Fontes Juarez Teixeira; site oficial do Grêmio; jornal DIÁRIO GAÚCHO.
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