1976. A chegada do técnico Telê Santana em
setembro, depois de uma tentativa inicial infrutífera dos dirigentes do Grêmio,
dava a entender que a temporada do ano seguinte estaria bem encaminhada. E
estava mesmo.
O Grêmio tinha fama de bom pagador. Assim, não foi difícil
trazer jogadores experientes e de retrospecto positivo, e com eles formar uma
boa equipe. O professor Ithon Fritzen, um gaúcho da cidade de Campo Bom,
cuidaria da preparação física. O objetivo inicial era impedir que o colorado
fosse enea – lê-se ênea – campeão
gaúcho, em 1977.
Indicado pelo, então presidente da Confederação Brasileira de
Desportos, Almirante Heleno Nunes, e com salários atrasados no Flamengo, o meia
Tadeu Ricci foi contratado. Em seguida veio o lateral direito Eurico, dispensado
pelo Palmeiras que preferiu apostar em Rosemiro, oriundo do Clube do Remo
(PA). Yura, um ótimo e dedicado
meia-direita, prata da casa, marginalizado em temporadas anteriores, nem
imaginava que seria um dos jogadores mais importantes no esquema de Telê que
tinha planos para ele.
“Ele mostrou que era
preciso ser profissional. Antes, nós não tínhamos direito a discutir nada, era
tudo de cima para baixo. E aí chegou o Telê e modificou tudo, começou a
conversação, o Telê dava liberdade.” [Júlio Titow, o Yura]1
Contratado pelo Grêmio em 1973, após ter sido observado no
campeonato brasileiro do ano anterior, mais especificamente no jogo do Internacional
contra o América (GB)2, e tendo marcado o único gol do jogo, Tarciso
disse certa vez, após uma derrota em Gre-Nal, que não aguentava mais perder
para o Internacional. Ele que era meia de origem, fora sacrificado durante
quatro anos no Grêmio jogando como centroavante. Agora, Telê Santana que
enxergava o que a maioria não via, queria aproveitá-lo como ponta-direita. A
partir do desempenho, acima da expectativa, de Tarciso na posição, o intrépido narrador
Haroldo de Souza, na época trabalhando na Rádio Gaúcha, imortalizou o atleta,
chamando-o de “o flecha-negra”, como é hoje conhecido.
Atílio Genaro Ancheta
Weiguel fora escolhido o melhor zagueiro da Copa do Mundo, em 1970. O Grêmio o
contratou no ano seguinte com o objetivo de agregar qualidade ao grupo que
tentaria quebrar a hegemonia do Internacional nos gramados gaúchos. O Inter não
se deixou abater e respondeu alguns meses depois com Elias Ricardo Figueroa Brander, mantendo seu ciclo de
vitórias.
Após seis anos de derrotas, Ancheta queria ir embora. Os
dirigentes gremistas não concordaram e resolveram apostar nele, no Tarciso e no
Yura para a temporada de 1977. O técnico Telê saberia o que fazer dali em
diante.
1977, 3 de abril. Foi contra o Guarany, em Bagé, que
eu vi esse time jogar pela primeira vez. E já estava ajustado, com o Yura,
antes acostumado a jogar por todo o campo, desempenhando uma nova função. O
Grêmio do Telê era diferente de tudo o que eu tinha visto. Quando o time
atacava, avançavam, ao mesmo tempo e com velocidade, os dois zagueiros e os
dois laterais. Eles se juntavam aos atacantes, enquanto a defesa ficava
guarnecida por dois volantes: o Vitor Hugo pelo meio, e o Yura, como o homem
mais recuado, também pelo meio, mas apto a interceptar um contra-ataque tanto
do lado direito, quanto do lado esquerdo.
E pensando todas as jogadas do Grêmio havia um craque, o
Tadeu Ricci. Para quem o não viu jogar, digamos que ele foi uma das principais estrelas
do Flamengo nos tempos de Júnior e Zico, onde jogou até 1976.
O ataque tricolor ainda não estava bem configurado: André, o
André Catimba, que mais tarde seria decisivo para a conquista do Campeonato
Gaúcho de 1977, ainda jogava no Guarani [de Campinas]; Alcindo, o veterano
centroavante das vitoriosas jornadas dos 60’s, só estrearia contra o
Riograndense [de Santa Maria], uns dias mais tarde. Assim, o trio de atacantes
formou, em Bagé, com Zequinha, Tarciso e Éder.
Zequinha, um ponta direita com grande habilidade técnica, contratado ao Botafogo, em 1974, também era um dos remanescentes do Grêmio dos
“intermináveis” fracassos diante do Internacional. Ainda assim, era um ótimo
atleta para as pretensões do tricolor da Azenha.
Éder era um ponta esquerda promissor, com um chute forte -
tão forte e tão certeiro como o do Rivelino -, revelado pelo América Mineiro,
em 1976, então com 19 anos de idade, e observado por Telê Santana que o indicou
para o Grêmio.
Enquanto isso, Tarciso ainda estava fazendo de conta que era
centroavante.
O primeiro Gre-Nal dessa equipe, em 17 de abril, serviu para
mostrar que a defesa formada pelos experientes Eurico, Ancheta, Oberdan e
Ladinho, estava pronta para enfrentar qualquer adversário.
Oberdan foi a primeira contratação do Grêmio para 1977. A
ideia partiu do Dr. Nelson Olmedo, vice-presidente de futebol. No ano anterior,
assistindo a um tape do jogo Coritiba
1 x 0 Internacional (30/10/1976), observou que todas as bolas levantadas para a
área do Coritiba foram cabeceadas pelo Oberdan, que venceu todos os supostos
duelos com o Escurinho, exímio cabeceador colorado. Então, sem ninguém saber,
Olmedo foi a Curitiba para contratar o cara que até já havia largado o futebol.
“... . Esse foi o homem
que botou o dedo na cara do Escurinho e disse: ‘– Nunca mais vocês vão fazer
gol de cabeça enquanto eu jogar.’ E foi verdade.” [Hélio Dourado]3
O Ladinho foi indicado para o Grêmio através de uma ligação
telefônica.
“Eu estava no Rio
fazendo a transação do Tadeu Ricci e o Grêmio foi jogar uma partida em
Curitiba, ..., quando o Afonso Gobbi me ligou...: ‘- Me falaram do Ladinho,
lateral do Atlético Paranaense!’. Quando ele falou em Ladinho eu lembrei que
tinha visto o Ladinho jogar duas ou três vezes e tinha me chamado a atenção.” [Nelson Olmedo]4
É bem provável que a relação entre o goleiro Walter Corbo e o
Peñarol estivesse estremecida em 19 de janeiro de 1977, quando o Grêmio foi a
Montevideo jogar um amistoso contra a seleção do Uruguay, onde ele também
atuava. Corbo procurou os dirigentes do clube gaúcho no Hotel e alinhavou, com
o Dr. Nelson Olmedo, a sua contratação.
Pronto. Estaria assim formada uma equipe competitiva, não só
capaz de enfrentar, de igual para igual, o gigante colorado, mas também apta a impor sua técnica diante de todas as outras grandes equipes do futebol brasileiro e orgulhar a sua
torcida e o seu presidente – um dos maiores da história do Grêmio -, o Dr.
Hélio Dourado.
O campeonato
gaúcho seria só o aperitivo.
Referências:
I) [1, 3 e 4] OSTERMANN,
Ruy Carlos. Até a Pé Nós Iremos; p.
144-155.