sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O MARINHEIRO NEGRO

Beltrano, Ciclano ou Fulano - nomes generalizantes, cuja função é substituir o nome real de uma pessoa quando não se o quer mencionar ou quando, ao citante, o nome verdadeiro é desconhecido.


Eu poderia começar com a poesia. Era o que tinha em mente. Mas depois pensei melhor e resolvi, primeiro, contar uma pequena história, por imaginar que um ou outro leitor pelotense ou "mergulhão" mais afoito reconhecesse o poema e, de cara, interpretasse a publicação como um descarado plágio.

É que eu me lembrei de um cara que era meu colega [em algumas disciplinas] na faculdade. Nós cursávamos, ou tentávamos cursar, Engenharia Civil, na Universidade Católica de Pelotas. Eu ia indo, aos trancos e barrancos, e penso que ele..., nem isso. Eu achava que o Joca D'Ávila levava mais jeito para todo e qualquer curso de Artes, menos para a Engenharia, uma intrincada ciência cheia de fórmulas deduzidas ou empíricas, cálculos que não são os renais, mas incomodam, e princípios da Física que não podem ser negligenciados.

Uma vez, no final de uma aula de Materiais de Construção, o professor estava divulgando os resultados da primeira prova do semestre e, diante das notas um tanto baixas da turma, de antemão já foi anunciando que à nota da prova seria somada a nota de um trabalho entregue uns dias antes. Dividindo o somatório por dois, teríamos a nota do G2 (uma avaliação que tinha peso 2, ao ser computada no resultado final do semestre). Nesse momento chega o Joca com o tal trabalho, e o entrega para o professor. Este retrucou:
- Eu não posso aceitar o teu trabalho porque a entrega era ontem.

O Joca, Indignado, com o sotaque mais forte de Santa Vitória do Palmar que dispunha no momento, e esganiçando a voz [de nervoso], respondeu:
- Mas tá aqui ele! Por que tu não queres receber?

- Porque a entrega era ontem...

- Mas eu fiz o trabalho! Teve gente que copiou dos outros e tu aceitaste! O meu [trabalho] eu fiz e não copiei de ninguém!

- Eu não posso aceitar, tchê.

- E quanto é que eu tirei na prova?

- Tiraste "quatro".

- Quer dizer que tu vais me dar "zero" no trabalho e eu vou ficar com "dois", de média? Tô rrrodado desde agora, então!

E resolveu escancarar tudo o que estava engasgado:
- Ciclano*, tu não nada! Tu não sabe nada e quer exigir?! Tu copia tudo do livro! A tua aula é uma bagunça! Tu não tens didática nenhuma!

As frases alteradas que iam brotando do fundo da alma do Joca revelavam o que ninguém tinha coragem de dizer. É possível que a partir dali ele tenha começado a pensar mais na sua veia artística, que poderia valer-lhe muito mais do que um curso para o qual, talvez, não tivesse a mínima vocação.

De fato o homem era um artista nato. O cartaz da peça "O Marinheiro" - que eu acho que é do Fernando Pessoa - anunciava, lá pela primeira metade dos anos 80, e por todos os cantos do bar da UCPel, o Joca D'Ávila no elenco.

Um tempo depois o Vitor Ramil, seu amigo de fé, compôs "Talismã", em homenagem ao Joca. Essa música está no LP "A Paixão de V Segundo Ele Próprio", de 1984.
























































José Carlos D'Ávila, por sua vez participou do disco com duas poesias: uma da linha "barroca" entranhada no valioso encarte do álbum (1); e declamando outra, com acompanhamento do Vítor e o seu violão acústico (2). É possível que a influência da fronteira tenha modificado um pouco o espanhol dessas suas poesias. Quem conhece bem a língua poderá notar a diferença, mas assim estava escrito:

(1) POBRE LA JANA SAVEIRO

LA JANA LLORANDO, LLORANDO
MAS MAGRA QUE EL VIENTO
LA LLEVABA COMO A UN PÁJARO AL CHUY
LA VOZ ENTRE ESPACIOS DECIA:
!AHH, HAAAH, AHHH AH, MUITAS GRACIAS.

A LA NOCHE VOLVIA AL RANCHO
CON SU SALTO PARTIDO EN LAS MANOS
Y EL CURU-CURU GEMIA:
POBRE LA JANA, POBRE LA JANA
Y EL SONIDO DE SUS SUEÑOS
MARTILLABA LOS MOSQUITOS
Y CUANDO EL RAYITO DE SOL
FISGABA SU CARA AMARROTADA
SUSPIRABA LA JANA, PUNTA ARRIBA, PUNTA ABAJO
Y SE ESTICAVA AL CIELO
NUM VUEL BRASILERO
COMO BAILABA EN EL SAVERO

JOCA


(2) POEMITA

DEPORTE:
LA HORA DE LAS MUJERES
CUANDO LA NATURALEZA ENLOQUECIÓ
YO HUBIERA PODIDO BESARLA
LA CARA DESLUMBRANTE DEL KREMLIN
LUZ ROJA EN EL MERCADO COMUN EUROPEO!
CAZADOR DE DINOSSAURIOS
hABLELES! LOS NIÑOS ENTIENDEN!
LA MUERTE NO ES INVENCIBLE
EXCURSIÓN HACIA LA NOCHE
MÉDICO Y TOXICÓMANO
¿LE GUSTA A USTED TOCAR Y SER TOCADO?
UNA FÁBRICA DE BEBÉS DE PROBETA!
EL ETERNO MITO DE MARIA CALLAS
REFRESCANTES MARAVILLAS
PINTURAS DE UN PUEBLO VALIENTE
APRENDA A CONTROLAR SUS SUEÑOS
VITORIA DEL ESPIRITO
O DESPERDICIADA JUVENTUD!!!

JOCA - VOZ
VITOR RAMIL - VIOLÃO ACÚSTICO



Um comentário:

Hílton disse...

Meu amigo, saudações ! Parabéns pelo site ! Estou tentando encontrar texto e autor do poema que Vitor Ramil recita alguns versos e Talismã ! Se puder me informar agradeço-lhe, viu ? Obrigado ! Um abraço !

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