segunda-feira, 15 de setembro de 2008

GREMIO DE FOOTBALL PORTO ALEGRENSE

Grêmio de Football Porto Alegrense. Na ata de fundação está escrito assim, e 15 de setembro de 1903 foi o início de tudo.
Não cabe aqui contar a história do clube porque todos os gremistas de verdade a conhecem de cór. Para os tricolores recém chegados ao mundo da bola ou simpatizantes recomendo o próprio site do clube http://www.gremio.net/page/view.aspx?i=mem_hist&language=0 ou o livro do Prof. Ruy Carlos Ostermann, "Grêmio: Até A Pé Nós Iremos".
Em homenagem a este Grêmio de tantas glórias, que hoje completa 105 anos, a lembrança de um Gre-Nal que ficou marcado na história do clube. É o clássico nº 157, disputado em 10 de dezembro de 1961, no Estádio dos Eucaliptos [o Beira-Rio ainda estava na fase inicial de construção - ver http://www.internacional.com.br/pagina.php?modulo=4&setor=29 ].
Válido pelo Campeonato Gaúcho de 1961, o Gre-Nal nº 157, na última rodada do segundo turno, não decidia nada, pois o Internacional estava cinco pontos à frente do Grêmio, segundo colocado, e portanto já era o Campeão. Era tradição do povo decidir, em função da disputa do último Gre-Nal do ano, de que cor seria o Papai Noel, se vermelho ou azul. Assim,...

No primeiro tempo não houve movimentação no placar. No início do tempo final, aos 2 minutos, o Internacional saiu na frente com um gol do ponta-de-lança Alfeu. Ele faria também, aos 20 minutos, logo após a expulsão do gremista Altemir, o segundo gol colorado.
Com dez homens em campo e perdendo por dois a zero, poucos acreditavam na reação gremista. Porém,...

Abaixo, o flagrante do primeiro gol do Grêmio, marcado por Nadir, de falta, aos 24 minutos do segundo tempo.














Marino (entreverado com o goleiro colorado Silveira) marca o segundo gol do Grêmio, de cabeça, após levantamento da meia-esquerda, efetuado por Nadir, que substituiu o lesionado Elton. Juarez, o leão do Olímpico, já aguardava um possível rebote para concluir.














E aqui Juarez, aos 45 minutos do segundo tempo, complementa um cruzamento de Milton, da linha de fundo, para "tingir de azul o carnaval colorado" [conforme publicou a Folha da Tarde Esportiva, na época]. Era o terceiro gol do Grêmio.














Um Papai Noel que aos 40 minutos do segundo tempo já estava fardado de vermelho, e se preparava para entrar em campo e comemorar a vitória colorada, foi surpreendido pelo improvável.
O texto a seguir [logo abaixo da foto], publicado no blog www.oprofetadoacontecido.blogger.com.br/ , explica o que aconteceu. É o depoimento do torcedor-símbolo do Grêmio, o cronista Paulo Sant'anna. O Papai Noel de azul era ele.
Penso que tenham ocorrido, todavia, alguns erros no depoimento: quando ele diz que os gols do Inter saíram no primeiro tempo; e quando fala no cruzamento do Vieira para o terceiro gol do Grêmio. No primeiro tempo houve só um "gol", e foi do Grêmio [mal anulado pelo árbitro, segundo a crônica]. Todos os gols válidos do jogo foram na segunda etapa da partida. E o cruzamento, da ponta esquerda, para o terceiro gol gremista foi do Milton, não do Vieira, como ele disse.



"Era quente naquela tarde de dezembro de 1961. O Internacional já tinha sido dias antes declarado campeão, mas a tabela marcava como último jogo do Campeonato Gaúcho o Gre-Nal. E naquele tempo, o último clássico [Gre-Nal 157, ocorrido no estádio dos Eucaliptos, dia 10/12] decidia nos costumes do povo que cor seria o Papai Noel, vermelho ou azul. Hoje, me espanto que isso pudesse ter tanta importância, mas tinha. Haveria de ser o Gre-Nal mais importante de minha vida. E, pelo seu desenvolvimento, creio que para tanta gente que o assistiu foi um jogo inesquecível. Ali pelos vinte minutos do primeiro tempo, o Internacional já vencia por um a zero. Altemir, lateral-direito do Grêmio, era expulso ainda na primeira etapa. Contra dez homens, não foi difícil fazer o segundo, também de autoria de Alfeu, escore dos primeiros 45 minutos. Lá pelos 18 do segundo tempo, houve uma falta contra o Inter e Nadir, que havia entrado no lugar de Élton, cobrou-a com um chute forte, que bateu na barreira e entrou no canto esquerdo: 2 X 1. Dez minutos depois, Marino empatou o jogo, numa cruzada de Mílton. Parecia incrível, mas estávamos a poucos minutos da final e podíamos até ganhar o jogo já perdido, com inferioridade numérica gremista em campo. Até que o inesquecível Vieira, da ponta-esquerda, cinco minutos antes de perder a partida, cruzou uma bola alta para a área pequena. Juarez cabeceou livre, com o goleiro Silveira batido. Era inacreditável. O Grêmio praticava uma das maiores viradas da história do Gre-Nal: 3 X 2. A torcida gremista festejava aquele gol como se fosse um título. Havia desânimo e pranto entre os torcedores colorados. Silveira, o arqueiro alvi-rubro, desmaiou após o gol espetacular de Juarez. Carregado na maca, foi substituído por Cestari. Faltava entrar em campo, com o jogo findado, o Papai Noel azul. Sabe quem tinha sido escalado? Exatamente este que está recordando o fato. Tinha eu então 22 anos e fui convidado para a façanha. Dias antes, prepararam-me uma vestimenta de seda azul, com gorro de pompom e tudo. E fiquei eu no vestiário todo o tempo, já dentro da indumentária, esperando apenas para calçar as botas, que eram de número 39, enquanto eu calçava 41. Quando o Inter fez o segundo gol, tirei a quente roupa de Papai Noel e coloquei numa sacola. Nada mais havia a fazer, ainda mais com a desvantagem de dez homens em campo. Mas, à medida em que o escore ia se modificando, eu ia colocando as calças, a blusa, o gorro, na expectativa de entrar no gramado. Quando explodiu o terceiro gol, o massagista Biscardi já passava sabonete em meus pés, no objetivo de conseguir enfiar neles as botas apertadas. A gente ficava naquele vestiário da cancha de basquete [do lado da rua Barão do Guaíba com Silveiro]. Havia uma porta de ferro e a tela separando-a da quadra. Quando o árbitro [Omar Rodrigues] terminou a partida, atirei-me contra ela, procurando ultrapassá-la. Policiais e funcionários da Federação tentaram impedir à força a minha entrada. Os dirigentes e os reservas do Grêmio empurravam-me. Consegui passar por aquela barreira, mas percebi que não havia mais pompom no meu gorro, nem a barba postiça branca no meu queixo, que haviam sido arrancados no sururu. Mesmo assim, entrei em campo sob os vivas da torcida gremista. Fui levantado pelos jogadores tricolores e levado até as sociais coloradas, que assistiam arrasadas ao meu desfile triunfante. Cumpria-se uma tradição de muitos anos. Fui para o centro da cidade, cercado por duas loiras espetaculares. Era o carnaval gremista que se espraiava pelas ruas. Dali a pouco, na Borges de Medeiros, o mais numeroso cordão colorado vinha em direção contrária - aliás, o Internacional havia sido o campeão. E nem a vitória gremista conseguira arrefecer-lhes por inteiro o ânimo. Quando aquela massa vermelha cruzou por nós, eles me atacaram. Subi num bonde-gaiola e eles entraram junto, perseguindo-me. Levei uma boa surra e minha roupa e minha roupa de Papai Noel foi inteiramente esfrangalhada. Nunca mais vou me esquecer daquela impossível vitória. Nem os riscos que corri para apenas afirmar uma rivalidade que continua séria mas tinha muito mais imaginário e pitoresco que nos dias de hoje".
Depoimento do cronista Paulo Santana à Placar "Os Grandes Clássicos do Brasil", de junho de 1991.
Ficha do jogo: Gre-Nal nº 157 (10/12/1961); Árbitro - André Matteo (Uruguay).
Internacional - Silveira (Cestari); Ari Hercílio, Ezequiel e Zangão; Sérgio Lopes e Kim; Sapiranga, Alfeu, Paulo Vecchio, Osvaldinho e Gilberto Andrade.
Grêmio - Irno; Altemir, Aírton, Ortunho e Mourão; Élton (Nadir) e Mílton; Cardoso, Marino, Juarez e Vieira.
Fotos: Revista do Grêmio, ano VI, nº 35.
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