quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

GASOLINA QUENTE NÃO!

Meu amigo Miguel Cunha era Chefe da Seção de Transportes da UFPel lá pela década de 1980. A Universidade comprava o combustível [que vinha em caminhões-tanque] e o armazenava nos reservatórios do seu próprio posto de gasolina, localizado no campus da instituição [no Capão do Leão]. O Miguel tinha o cuidado de não permitir que os caminhões-tanque, que estavam prestes a descarregar o combustível [no começo de uma tarde quente], o fizessem logo que chegassem ao local. Ele determinava que o motorista do caminhão de combustível colocasse o seu veículo na sombra e aguardasse. Sob protestos, o transportador, que alegava ter outros locais para atender, obedecia sem entender porquê.

Após algum tempo, ou muito tempo (ao cair da tarde, dependendo da situação), o motorista do caminhão era chamado e autorizado a descarregar o combustível.

¿Por que o Miguel fazia isso? ¿Simplesmente para aborrecer o motorista?
Não. E as razões que ele apresentava se baseiam simplesmente na lógica e nas leis da Física.

Vejamos este exemplo prático:
Em um dia de Primavera, em Canoas, RS, um caminhão-tanque foi carregado, em um dos seus compartimentos, com 10000 litros de gasolina. Ele rodou uns 270 Km até Pelotas, e a gasolina confinada se expandiu com a ação do calor do sol sobre o tanque do caminhão e a agitação das próprias moléculas do combustível com o movimento.
Como o combustível é medido [vendido e comprado] por volume, e não por peso, se o combustível, após sofrer considerável expansão volumétrica, fosse descarregado tão logo chegasse o caminhão-tanque ao seu local de destino, a quantidade de gasolina fornecida à UFPel (por exemplo, 10000 litros) seria menor [com perdas volumétricas não desprezíveis] do que se houvesse um tempo para resfriamento do conteúdo transportado.
Com o resfriamento natural do tanque de transporte e, consequentemente, da gasolina ali contida, o volátil combustível voltaria a se contrair volumetricamente, e a quantidade de gasolina prometida pelo vendedor seria efetivamente entregue.

Um cálculo hipotético simples pode ser feito aqui para estimar as perdas acima descritas:
coeficente de expansão volumétrica da gasolina= 9,0x10(exp.)-4;
temperatura do combustível recém retirado de um reservatório subterrâneo, em Canoas, quando o caminhão-tanque foi carregado= 14ºC;
temperatura do combustível no momento da chegada do caminhão a Pelotas= 33ºC.
A variação de volume do combustível pode ser obtida por:
V2-V1= V.ß.(T2-T1), onde:
V2-V1 é a variação de volume;
V é o próprio volume;
ß é o coeficiente de expansão volumétrica da gasolina;
T2-T1 é a variação de temperatura.

Assim: V2-V1= (10000).(9,0x10exp-4).(19)= 171 litros

Se eu estiver certo neste caso, 171 litros de gasolina deixariam de ser entregues ao comprador, caso o combustível fosse descarregado tão logo chegasse ao seu destino.

Já naquele tempo o servidor público supracitado mostrava [ao atentar para detalhes que poderiam passar despercebidos pela maioria] que era um profissional diferenciado de elevada competência, e que lutava [de verdade] pela "camisa" que defendia, neste caso, a da Universidade Federal de Pelotas.
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