Meu amigo Neimar (não confundir com um jovem jogador de futebol do Santos FC) não aguentava mais ter que- diariamente, e às vezes, várias vezes por noite- pôr à prova sua "firmeza" diante da namorada de ocasião que arranjou por acaso, em um dos seus vai-e-vem ao hipermercado próximo à sua casa. Ela, a namorada, era uma morena jeitosa e discreta, de cabelos lisos, rosto miúdo, olhos castanhos bem claros e medidas bem proporcionadas, que trabalhava como repositora de mercadorias nas prateleiras da seção de pães da loja.
- "É este corpaço que tu estás vendo aí, mas é insaciável e espalhafatosa na hora do 'vamo vê'!"- me disse ele, enquanto se escondia atrás das prateleiras das bebidas e apontava para ela.
Esgotado, estressado e louco para se ver livre da namorada, mas sem saber direito como fazer, o Neimar resolveu apresentá-la ao André, um seu amigo. O André, apesar de não ser um cara feio, era pra lá de tímido e, talvez por causa disto e dos óculos fundo-de-garrafa que o ajudavam a vencer a miopia, não fazia muito sucesso com as mulheres. Em matéria de mulher, estava na pior o André, por isto mesmo é que se encheu de esperança e entusiasmo quando o outro explicou a ele a situação.
- "André, eu ia te apresentar ela, mas acho melhor a gente fazer o seguinte: Eu vou 'desaparecer' por uns 10 dias. Aí ela vai sentir as carência..., tás me entendendo? Então tu chega nela e diz qualquer coisa no ouvido dela que ela vai se 'derreter' toda, e vai ficar na tua mão, cara!"
- "... mas o que é que eu digo, Nei?"
- "Ah, diz que ela é a mulher mais linda que tu já viste na vida, que ela cai de quatro. Vai por mim que é assim mesmo! Já sei até o que ela vai responder: 'Eu saio às 6..., se tu quiseres a gente pode sair pra tomar um café depois!'"
- "E como é que ela é?"
- "É uma moreninha gostosa de cabelo liso, com um pouco mais de 1 e 60 de altura. Não tem erro, ela vai estar ali ajeitando os pães na prateleira. Aí tu chega!"
Enquanto o tempo passava (os 10 dias- aqueles- de carência), o André treinava em casa a sua performance, no quesito eloqüência, diante da futura provável namorada.
Sexta-feira, 5 e meia da tarde. Lá estava o André no interior do hipermercado, rondando a prateleira dos pães. Tivera o cuidado de avisar ao seu amigo Neimar que estava indo lá, que estava decidido.
Havia chegado a hora. E disse o André à moça que estava ali mexendo em umas embalagens de pão fatiado:
- "Oi! Antes de tudo, me perdoa! Eu não sei se tu és casada, se tens namorado ou noivo..., e se eu estiver sendo inconveniente, por favor, me manda embora! Mas eu preciso te dizer que tu és a mulher mais linda que eu já vi na minha vida!".
E enquanto o Neimar, meio escondido atrás das gôndolas de bebida [sem que o André sequer lhe tivesse notado a presença] fazia gestos desesperados com os braços, querendo avisar o amigo de alguma coisa, ao mesmo tempo em que apontava para a outra mulher, uns metros à esquerda, a outra belíssima morena, enrubescida, abriu um sorriso maravilhoso e respondeu:
- "Eu nunca tinha ouvido um elogio assim tão sincero em toda a minha vida! Se tu quiseres a gente pode sair pra tomar um café depois!"
"Tomar um café depois", eram as palavras mágicas que o André precisava ouvir. Exatamente como o Neimar lhe tinha antecipado.
Ariane, médica recém-formada, foi a primeira e [até agora] única namorada do André. Eles casaram e têm, hoje, um casal de filhos. Mais tarde ela se especializou em oftalmologia, proibiu o Neimar de apresentar a namorada dele (a que trabalhava no hipermercado) ao marido André, que hoje não usa mais óculos.
O Neimar, por sua vez, preferiu deixar tudo como estava, e ainda continua se queixando do cansaço, do estresse e da namorada ninfomaníaca.