sexta-feira, 6 de novembro de 2009

OS GIBIS PROIBIDOS

Fredric Wertheimer (20/03/1895- 18/11/1981) foi um psiquiatra alemão [naturalizado americano, em 1929, com o sobrenome "Wertham"] que tinha credibilidade suficiente junto aos meios de comunicação de massa dos Estados Unidos [para onde tinha se mudado em 1922], para prescrever o que era bom ou nocivo à sociedade, principalmente no quesito que se dedicou a analisar com profundidade, as histórias em quadrinhos, as quais, segundo ele, deturpavam o comportamento das crianças e adolescentes.
O trabalho de Wertham com jovens problemáticos, e um interesse clínico na cultura popular, resultou [em 1941] num livro chamado "Dark Legend", o qual, mais tarde, deu origem a um jogo. A obra era uma adaptação do caso verídico de um assassino de 17 anos que, conforme Wertham, tinha uma vida de fantasia dark baseada em filmes, peças de rádio, e revistas em quadrinhos. De fato, as HQs eram extremamente populares entre todos os jovens, por isso não foi de estranhar que jovens criminosos também as consumissem em grandes quantidades, mas para o psiquiatra Wertham a influência dos quadrinhos sobre a personalidade dos adolescentes era cada vez mais predudicial, e nos artigos que escrevia para revistas, passou a se dedicar aos efeitos maléficos das histórias em quadrinhos, em particular.
Seu livro mais conhecido, "Seduction of the Innocent" (1954), [condensado em seis páginas pela revista Reader's Digest de maio/1954] representou o auge de sua influência e levou o Congresso americano a uma investigação na indústria dos quadrinhos, e à criação, por parte da CMAA- Comics Magazine Association of America, do Comics Code Authority, de um código de auto-censura [com um selo estampado nas capas das revistas em quadrinhos, aprovadas pela censura], como resposta às críticas de Fredric Wertham.


Mas para "detonar" de vez com os gibis, Wertham concluiu que Batman e Robin eram gays. Aqui no Brasil teria sido apenas redundante essa afirmação do psiquiatra, pois quem acompanhava o seriado na TV [lá nas décadas de 60/70], deve ter visto num episódio um diálogo entre o Batman (Adam West) e a Mulher-Gato (Julie Newmar), mais ou menos, assim [dublado para o português do Brasil]:

Batman (Adam West) & Robin (Burt Ward)


Batman (ao imobilizar a Mulher-Gato): '- ¿O que eu poderia fazer para você abandonar esta vida de crimes, Mulher-Gato?'
Mulher-Gato: 'É simples, Batman! Case comigo.'
Batman (surpreso): '¿Casar? Mas..., e o Robin?'


Apesar dos prejuízos causados [às editoras de HQs] pela avalanche de argumentos preconceituosos, a indústria dos quadrinhos sobreviveu. E lá por 1973 o psiquiatra Fredric Wertham resolveu voltar atrás, declarando e garantindo que as HQs não causavam os malefícios que ele imaginara a princípio. Mas aí já era tarde [para ele, que morreu em descrédito oito anos depois].


Para ler o resumo [em inglês] de "Seduction of the Innocent", que causou esse estrago todo, entre aí:
http://thehorrorsofitall.blogspot.com/2007/12/blueprints-for-delinquency-readers.html


Baseado no artigo de Álvaro Oppermann, "O Doutor Que Odiava Heróis", publicado em Superinteressante, junho/2004- p. 32.
Link: blog "The Horrors Of It All".
Imagem: blog "Baú do Colecionador".

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