...“Aproveitando-se do contexto e dos discursos a favor das concessões e privatizações, os interessados em assumir as empresas públicas passaram a incentivar a desregulamentação, a privatização e a concessão dos setores de utilidade pública, em nome da economia de mercado. Assim, o Brasil entraria no rol dos Estados ‘modernos e globalizados’. Esse discurso vai ao encontro dos interesses particulares de grandes corporações econômicas estrangeiras e nacionais, na intenção de assumir as empresas públicas por preços simbólicos, sem regras, sem limites de ganhos e sem compromisso social. Esse fato, segundo Murgel Branco (1997, p.A3) ‘é a própria negação dos princípios básicos da prestação de serviços públicos’,...”
Assim escreveu Márcio Rogério Silveira, em sua tese de doutorado “A Importância Geoeconômica das Estradas de Ferro no Brasil”, defendida na Universidade Estadual Paulista, em Presidente Prudente, SP. Não seria preciso complementar que foi “um crime” a privatização da malha ferroviária brasileira, mas - como muitas vezes afirmo em minhas narrativas – não resisti à tentação.
A falta de investimento em infraestrutura no setor por parte do, dito, Brasil da democracia e, anteriormente, o incentivo desmesurado ao transporte rodoviário, e um consequente desincentivo ao transporte ferroviário, feito pelo governo militar, fez com que, aos poucos, os nossos trilhos e dormentes, simbolicamente, enferrujassem e apodrecessem, respectivamente.
A RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima), criada em 1957, que unificou as 42 ferrovias então existentes, regionalizou-se em 18 setores, encampando por aqui a VFRGS (Viação Férrea Rio Grande do Sul). As primeiras locomotivas a diesel surgiram também nessa época, mas pelo que consigo lembrar, na linha Bagé-Cacequi elas só apareceram por volta de 1964, assim mesmo, alternando-se com as locomotivas a vapor, as chamadas “maria-fumaça”, bem mais vagarosas.
Enquanto nos países desenvolvidos o transporte ferroviário, por motivos econômicos óbvios, é incentivado através de investimentos em tecnologia e infraestrutura, por aqui não se vê nem a tal “luz no fim do túnel”. Em poder do capital especulativo, o sistema ferroviário brasileiro não foi contemplado, até hoje, com quaisquer melhorias na sua malha ferroviária que data do século XIX. Não há uma política séria voltada para reduzir, paulatinamente, o tráfego de caminhões pesados pelas grandes rodovias, o que só pode ocorrer com a reconfiguração generalizada da rede ferroviária do país, onde os caminhões se destinem somente para transportar frações de carregamentos dos locais de produção aos terminais das linhas férreas, cabendo às composições ferroviárias o transporte pesado a longas distâncias, até os portos marítimos, para exportação, e deles retornando, com os produtos importados.
O retrato do descaso. Isto é o que se pode comentar a respeito da estação ferroviária de Pelotas, RS. E é desta forma que se encontram a maioria das construções que constituíam as estações de trens [de passageiros] do Estado do Rio Grande do Sul. A composição estacionada junto à antiga plataforma de embarque é da empresa que comprou os direitos de uso da malha ferroviária desta região. Aparentemente não há relação entre a tal empresa e o prédio que constitui o patrimônio público que fazia parte da RFFSA. Por culpa das autoridades [em nível municipal, estadual e federal] e pela ação do tempo e do vandalismo, acham-se em ruínas históricos edifícios, que muito bem poderiam estar "na ativa", se o Brasil fosse, de fato, um país sério.
Esta foto [que vale por mil palavras] é de Alfredo Rodrigues.
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3 comentários:
Concordo em gênero , número e grau pois sou testemunha viva e atuante no desenrolar dessa história ao longo dos anos.
Excelente ideia. Vou divulgar no meu post, sobre cultura de Pelotas. Abraço
Caro blogueiro é com satisfação que vejo ideias que não são ultrapassadas,muito embora queiram nos convencer do contrário. As grandes cidades nasceram em torno das grandes estradas de ferro em qualquer parte do mundo e isso é história, as maldades políticas as arruinaram. Os grandes conglomerados de transporte coletivo infelizmente ainda estão vencendo.
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